o tronco negro do faraó

O Tronco Negro do Faraó

Tradução livre de trechos de El Cante Flamenco, Ángel Álvarez Caballero, Alianza Editorial, Madrid, 1994. Publicado no livro Messias de um homem só, jornal Dez Faces, edição 4, 2007

“Manoel Torre, que não sabia ler nem escrever – o homem, sem embargo, com a maior cultura no sangue, como dizia Garcia Lorca – , tinha sua própria filosofia sobre o canto.” 

Em uma ocasião ele disse a um que cantava:

“Tu tens voz, tu sabes os estilos, mas não triunfarás nunca, por que tu não tens o duende. E no canto jondo há sempre que buscá-lo, até encontrá-lo, é o tronco negro do faraó.”

Garcia Lorca em pessoa nos descreve:

“Então a Ninha de los Peines se levantou como uma louca, tronchada como uma chorona medieval e bebeu de um trago um grande vaso de cazalla, como fogo, e se sentou a cantar sem voz, sem alento…, com a garganta abrasada, mas…
com duende.

Havia logrado matar todo o andamento da canção para dar vez a um duende furioso e abrasador, amigo dos ventos carregados de areia… A Ninha de los Peines teve que desbarrar sua voz, por que sabia que a estavam ouvindo gente ‘esquisita’, que não pedia formas, e sim tutano de formas… E ela teve que se empobrecer de faculdades e seguranças, é dizer, teve que afastar sua musa e quedar-se desamparada… E como cantou! Sua voz já não julgava, sua voz era um jorro de sangue, digna por seu trabalho e sinceridade…”

“Sordera de Jerez, um cigano que canta como os anjos… nos diz que o duende é uma coisa que se leva dentro. ‘Eso no lo conoce nadie, eso tiene que nasé de la persona…’ E se pode cantar sem que isso lhe ocorra? ‘Hombre, claro que canto sin que me ocurra eso’, não tenho remédio além de cantar, pois canto… mas quando me sinto a gosto, se me saltam as lágrimas cantando, por que ponho o coração… aí não penso se estou bem ou se estou mal, canto ao meu ar, ao que me sai.

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